Desenvolvimento Cognitivo

Ocorrem ao longo da infância e da adolescência diferentes estádios de desenvolvimento cognitivo, ou patamares de desenvolvimento, que devem ser estudados afim de percebermos qual a altura em que as crianças se encontram aptas para aprenderem determinadas competências intelectuais e cognitivas. È necessário ajustar as tarefas de aprendizagem adequadas a cada criança, para evitar a tentativa de ensinar algo a uma criança que não esteja pronta para aprende-lo.

Jean Piaget: Estádios de Crescimento e Desenvolvimento

Piaget colocou questões como por exemplo o porquê de as crianças ficarem confusas com as relações de parentesco, ou o porquê de não entenderem que quando se deitam feijões de um frasco baixo e grosso para um alto e fino, o número de feijões se mantém constante, etc..Embora na sua análise não fizesse as mesmas questões a todas as crianças, através de várias repetições, Piaget acumulou evidências suficientes para se tornar o maior teórico do desenvolvimento intelectual.

Anteriormente a visão era de que a inteligência estava determinada antes do nascimento, o que significava que não havia nada a fazer. Por isso os alunos eram classificados como lentos, moderadamente rápidos ou supern rápidos, e o mesmo currículo era dado aos alunos a ritmos diferentes, não se esperava que um aluno lento aprendesse tanto como o mais rápido. O curriculo era simplificado para alunos lentos e enriquecido para os mais rápidos.

Baseando-se nas suas observações directas de crianças em contextos naturais como em casa ou na escola, Jean Piaget apresentou ideias que iam fortemente contra a psicologia da época. Por exemplo, a ideia de estádios de desenvolvimento, já que o conceito de desenvolvimento por si só já supõe que hajam mudanças ao longo do tempo, neste caso em relação à inteligência, o que ia contra a ideia tradicional da inteligência definida desde antes do nascimento. A existencia de diferentes estádios alerta para a necessidade de conhecimento do estádio em que a criança se encontra quando queremos proporcionar-lhe experiências proveitosas para o seu desenvolvimento.

Dentro de cada faixa etária Piaget encontrou sistemas consistentes, definindo quatro estádios divididos em subcategorias. Cada estádio contém características próprias que se relacionam com a forma como a criança processa a experiência. Contudo em cada estádio coexistem elementos quer de estádios precedentes, quer de estádios seguintes.

Os estádios que Piaget definiu são os seguintes:

Estádio Sensório-Motor dura sensivelmente até aos dois anos. Neste estádio a actividade cógnitiva baseia-se nos sentidos, e aquire-se a noção de espaço. As crianças vêem e sentem o que está a acontecer mas não têm forma de cateorizar a sua e experiência devido à ausência da linguagem. Assim um ambiente sensório rico é a melhor maneira de desenvolver a inteligência das crianças mais pequenas

A criança não tem forma de representar a ideia acerca da sua experiência devido à forma rudimentar da sua organização metal.

Um comportamento sensório-motor fundamental para o desenvolvimento cognitivo é a busca visual. Por isso a ausência de experiências visuais durante o período sensório-motor impede o desenvolvimento de certas estruturas mentais. A busca visual tem que ser aprendida antes que a permanência do objecto possa ser aprendida. Quando as crianças aprendem o conceito de permanência do objecto conseguem perceber que quando este desaparece da sua vista, continua a existir embora não o consigam ver. Dos vídeos que se seguem, o primeiro mostra uma ciança que ainda não apreendeu o conceito de permanência do objecto e no segundo a criança já apreendeu esse conceito.

Esta aprendizagem é o inicio de uma memória elementar pois as crianças conseguem reter na sua mente a imagem do objecto desaparecido, ou seja são capazes de algum pensamento representativo, muito semelhante ao do estádio seguinte. Pode por isso concluir-se que seria um erro dizer que não existe pensamento no estádio Sensório Motor. É nesta fase que a criança começa a compreender as relações de causa-efeito.

A qualidade das experiências neste estádio preparam a criança para passar ao estádio seguinte.

Estádio Pré-Operatório ou Intuitivo dura desde os dois aos sete anos e tem como método de aprendizagem o instinto. No estádio anterior a criança já havia começado a desenvolver algumas imagens mentais e durante este estadio o pensamento sofre mudanças qualitativas, já é capaz de pensamento simbólico, a sua capacidade de armazenar imagens aumenta consideravelmente, assim como a capacidade de compreender e usar palavras. As crianças estão mais vulneráveis à aprendizagem da língua, deliciam-se a imitar sons e a experimentar palavras diferentes, dizendo-as apenas por instinto sem se preocuparem com o que significam.

Neste estádio as crianças têm pensamentos mágicos e fantasiam muito por isso frequentemente finjam que os bonecos são reais, que conversam com amigos imaginários, consigo mesmos e com objectos inanimados, estas são as formas de a criança experimentar a linguagem para se ensinarem a si mesmas, pelo que o ensino é desnecessário. É também muito frequente neste estádio que as crianças aparentem estar a ter uma conversa com outras, mas o que respondem tem muito pouco a ver com o que as outras disseram pois falam apenas para se ouvirem, Piaget chamou a este fenómeno, monólogo colectivo. Mas de qualquer maneira já conseguem partilhar as suas cognições, enquanto que no sensório motor a experiência é mais privada e não comunicativa.

Principalmente neste estádio, as crianças privadas da fala sofrem um atraso no desenvolvimento, possivelmente irreversível.

Como a forma de aprendizagem deste período é essencialmente instintiva, as crianças têm tendência a escolher um copo alto e fino e não um baixo e grosso pois, intuitivamente, o copo alto parece conter mais água. O video a seguir mostra uma experiência na qual é identificado este tipo de comportamento.

Também neste estádio as crianças não são capazes de pensamento reversível.

Já neste estádio há sinais de elementos pertencentes ao estádio seguinte.

Estádio de Operações Concretas dura desde os sete até aos onze anos, e é caracterizado pelo facto de as crianças já compreenderem relações funcionais, e aspectos específicos do problema de forma que uma diferença aparente não as engana. O video seguinte mostra a mesmo experiência com duas crianças, uma no estádio anterior e neste estádio.

As crianças durante este período já conseguem distinguir sonhos de factos reais, mas não separam hipoteses de factos, pois o seu pensamento é concreto não consegue ainda realizar abstracções

A maior parte das crianças entra na escola sensivelmente na mesma altura em que estão a passar para este estádio, o que é importante pois actividades como contar, classificar, construir e manipular, praticadas na escola, estimulam o desenvolvimento cognitivo.

Durante esta fase, mais significativo do que o jogo em si é fazer regras para esse jogo, e estas são consideradas como fixas pelas crianças.

Também neste estádio existe pronuncios do estado seguinte.

Estádio de Operações Formais ocorre desde os onze aos dezasseis anos, aqui os adolescentes já são capazes de pensamento abstracto, já são capazes de examinar dados do ponto de vista lógico. Por exemplo, enquanto que os adolescentes neste estado, para a resolução de um problema põe de lado as estratégias que não têm sucesso e testam todas as possibilidades até encontrarem as correctas, no caso das crianças mais novas é muito menos provável que o façam.

Outra mudança importante neste estádio é que o adolescente passa a ser capaz de metacognição, ou seja de pensar acerca do seu pensamento e do pensamento dos outros, havendo um alargamento da imaginação. A partir dessa reflexão sobre o próprio  pensamento, o adolescente passa a ser capaz de se autocorrogir e passa também a ser capaz de, pensamento perspectivista, ou seja, de compreender que as pessoas podem ter pontos de vista diferentes em relação à mesma coisa, apreendendo assim o conceito de relativismo.

Importa realçar que todas as criança devem atravessar os estádios segundo uma sequência regular, sendo crucial ganhar experiência suficiente em cada estádio e interiorizar essa experiência antes de prosseguirem para estádios seguintes. 

Piaget mostrou pelos seus estudos que a inteligência não é fixada à nascença. Em vez disso, é resultado da acção apropriada durante cada estádio específico, por isso reclama uma escola activa. Outros estudos mostraram que além da acção apropriada em cada estádio, também a manipulação de utensílios levou o cérebro humano a desenvolver-se.

A Questão Americana

Outra preocupação além de definir de que forma é que a inteligência se desenvolve, é a chamada questão americana, ou seja, se podem acelerar-se os estádios de desenvolvimento. A resposta a esta questão é, obviamente negativa. Mas por não podermos acelerar o desenvolvimento, não significa que devos deixar as crianças e adolescentes evoluirem sozinhos ao seu ritmo, pois assim não desenvolvem todo o seu potencial. Então deve tentar-se alimentar o desenvolvimento em cada estado específico, por isso os programas educativos podem ser eficazes em todas as idades melhorando significativamente o desenvolvimento cognitivo.

Extensão da Teoria de Piaget

Na perspectiva de Robert Sternberg, a teoria de Piaget não inclui individuos com niveis excepcionais de capacidade cognitiva. Então, no seguimento desta ideia, Patrícia Arlin explorou a hipotese de um estádio de desenvolvimento mais desenvolvido, como que uma extensão da teoria de Piaget. Pois, nas suas observações, Piaget sempre tinha como objectivo perceber a capacidade dos individuos de resolver problemas, mas nunca abordou a capacidade de formularem problemas. Não avaliou por isso a originalidade e a capacidade criativa dos sujeitos.

Equilíbrio entre a Acomodação e a Assimilação

Outra ideia importante em que Piaget trabalhou foi na equilibração entre a Acomodação e a Assimilação. Ora, os Estádios de Crescimento/desenvolviento, são constituidos por períodos de reorganização seguidos por períodos de integração em que as mudanças são assimiladas. Assimilação consiste em ajustar as experiências ao nosso desenvolvimento cognitivo, por exemplo, crianças no estádio sensório-motor integram mais facilmente as experiências sensório-motoras. Mas por vezes somos "obrigados" a decorar algo sem conseguirmos compreender. Para além disto, a certa altura o nosso "impulso de curiosidade" leva-nos a um sentimento de insatisfação em relação áquilo que conhecemos (fenómeno designado por perturbações do conhecimento), queremos conhecer mais e por isso temos necessidade de alterar o nosso estádio de processamento cognitivo presente de modo a poder incorporar novas experiências, a este fenómeno designa-se por Acomodação.

Em suma o nosso conhecimento cognitivo desenvolve-se através da Equilibração entre a Assimilação de experiência que se ajustam ao nosso estado de desenvolvimento presente e a Acomodação de experiências que não se ajustam a esse estadio de desenvolvimento, criando a necessidade de se alterar esse estadio por um mais desenvolvido que possa incorporar essas experiências.

A nossa maneira antiga de pensar tem a tendencia de resistir à mudanças, no entanto, uma vez alterada não podemos voltar à maneira antiga de pensar.

O Desenvolvimento Cognitivo e o Ensino

O currículo deveria proporcionar experiências  educativas de modo a  favorecer o desenvolvimento.  No entanto verificam-se  por exemplos alunos do ensino secundário que não são ainda capazes de realizar abstrações, e se no ensino secundário não o conseguem fazer, vão obviamente decorar sem compreender. O que acontece em cada estádio é que o individuo pode passar ao estádio seguinte ou manter-se naquele, dependendo das experiências que tem até à época. Por isso, em vez de pressupormos que todos os alunos do secundário são competentes em termos de pensamento formal, deveríamos proporcionar-lhes actividades que estimulem o desenvolvimento dessas competências.

Relação entre os Estádios de Desenvolvimento de Piaget e a Fisiologia do Cérebro

Haverá alguma relação entre as mudanças verificadas no cérebro e os estádios de desenvolvimento cognitivo? Piaget sem dispor de tecnologia avança afirmou que experiências interactivas apropriadas produzem um desenvolvimento do estádio que proporciona mudanças na estrutura cerebral bem como uma transformação nos processos cognitivos usados.

De facto investigações recentes provaram que ocorriam mudanças de acordo com as que Piaget sugeriu, ocorrem surtos de crescimento que coicidem com os estádios Sensório-Motor, Pré-Operatório, Concreto e Formal. As unicas diferenças em relação aos estadios definidos por Piaget é o facto de o período sensório-motor se prolongar até aos três anos e meio e existir a possibilidade de um quinto estádio, tal como Patricia Arlin tinha sugerido.

De qualquer forma existe uma clara relação entre a organização cererbral, as suas alterações e o desenvolvimento cognitivo po estádios.

No entanto as aletrações cerebrais não ocorrem de forma automática, as experiências apropriadas ajudam a fomentar esse desenvolvimento.

Embora não existam evidencias, suspeita-se que os periodos de crescimento lento (que se seguem aos períodos de crescimento rápido) sejam períodos em que as crianças tenham maior dificuldade em aprender.