Experiência Precoce

Períodos Críticos

Freud sublinhava que o desenvolvimento da personalidade era produto das experiências vividas na infância, neste sentido foram concebidas escolas com o objectivo de melhorar o crescimento emocional e pessoal nestas idades.

Os defensores do meio como factor preponderante na formação da personalidade, em oposição aos defensores da hereditariedade, propunham que à semelhança dos fenómeno de cunhagem que ocorre com as aves, o homem aprende a seguir um estímulo apenas se este lhe for apresentado durante um período de tempo crítico. Esta forma de aprendizagem requer o encontro do meio com um potencia hereditário, no entanto o factor mais relevante é o tempo em que esse encontro ocorre. Se ococrrer demasiado cedo não ocorre aprendizagem, acontecendo o mesmo se o encontro do meio com a hereditariedade ocorrer demasiado tarde.

Após alguns estudos pôde constatar-se que em alguns comportamentos a experiência precoce tinha pouco ou nenhum efeito, que noutros essa prática era benéfica e noutros era mesmo prejudicial.

Portanto deveria existir um meio termo entre estimular a criança a praticar novas actividades e relaxar deixando que a natureza leve o seu próprio tempo, até porque a criança procura ser estimulada naturalmente, mostrando alegria quando o consegue.

Visto que o tempo crítico é um período favorável à aquisição de determinada competência, é importante saber-se quando ocorrem para não induzirmos a criança a realizar determinada actividade quando os seus nervos e músculos não estão ainda preparados, prejudicando assim a aprendizagem. No entanto existem poucos dados que nos indiquem quando ocorrem os períodos críticos, pensa-se que coicidem com os períodos de crescimento mais rápido.

 

Os estudos de Nancy Bayley

Nancy Bayley estudou o crescimento e desenvolvimento humano, tendo retirado desses estudos as seguintes conclusões:

- Os QIs não são constantes, existe uma variação considerável do QI ao longo do tempo;

- A variabilidade do QI é maior durante os primeiros anos de vida, a estabilidade do QI é proporcional à idade;

- A capacidade intelectual pode crescer durante toda a vida, não estágna no fim da adolescência pode aumentar pelo menos até aos cinquenta anos, a capacidade intelectual cresce se for estimulada a tal;

- As estruturas intelectuais mudam com a faixa etária;

Curva do crescimento intelectual de Benjamin

Benjamin Bloom traçou a curva de crescimento com acelaração negativa para o desenvolvimento intelectual, o que significa que com a idade as capacidades intelectuais tendem a aumentar a um ritmo mais lento

Este mesmo autor afirma a importancia da experiência precoce no desenvolvimento cognitivo, e realça que com seis anos de idade, dois terços da nossa capacidade intelectual já está formada. Podemos assim constatar que o inicio da educação formal efectua-se quando o desenvolvimento intelectual começa a abrandar, pelo que é necessária uma intervenção mais precoce.

Também a adolescência constitui um dos períodos críticos mais importantes, pois nesta altura se iniciam as primeiras relações sexuais e muitas vezes os problemas na vida sexual dos adultos têm a ver com problemas que ocorreram na adolescência nesse mesmo campo.

Também na vida adulta existem períodos críticos, como por exemplo a idade de uma mulher conceber o seu primeiro filho.

Bloom conclui que não só um ambiente privado de estímulos enriquecedores afecta o desenvolvimento intelectual, como também o facto de se deixar passar um período crítico de desenvolvimento intelectual.


Hunt: Privação de estímulos vs Restrição motora

Hunt por sua vez afirmou que a privação precoce de estímulos pode afectar o desenvolvimento motor normal, mais do que a restrição motora precoce. Teve como base estudos com crianças que revelaram que crianças com privação precoce de estímulos têm mais problemas motores do que crianças privadas de actividade motora precoce.

Desta forma Hunt insiste que a variedade de estímulos é crucial para o desenvolvimento intelectual. No entanto a criança não pode ser exposta a uma variedade avassaladora de estímulos, uma heterogeneídade exagerada de estímulos pode causar frustração, enquanto que uma homogeneídade de estímulos provocará tédio. Assim sendo é necessário ajustar o nível de complexidade ao desenvolvimento da criança de modo que seja suficientemente complexo para costituir um desafio e suficientemente moderado para esse desafio não seja impossível aos olhos da criança.

A perspectiva de Bruner está de acordo com as conclusões de Hunt, a variedade de estímulos é crucial pra o desenvolvimento adequado das capacidades cognitivas, por isso as crianças que forma privadas de qualquer estímulo apresentam de certeza problemas irreversíveis no desenvolvimento cognitivo.

 

Perspectiva de Piaget quanto à aquisição de conceitos

Piaget formulou uma teoria acerca de como as crianças aprendem a formar conceitos. Esta teoria sugere que aprendem um conceito, considerando-o uma entidade isolada do meio. Por exemplo uma criança que reconhece que a quantidade de líquido existente em dois copos de largura diferentes pode ser o mesmo independente da altura que atingem em cada um dos copos, já adquiriu o conceito de volume, contráriamente à criança que pensa que o copo que contém mais àgua é aquele cujo nível da àgua é mais alto independentemente da sua largura.

Também Piaget afirma que certas estruturas cognitivas têm que estar formadas préviamente para que as crianças possam apreender determinados conceitos.

 

Bases Biológicas

Donald Hebb propôs um modelo teórico da organização da actividade neuronal, que sugeria que o desenvolvimento apropriado do cérebro só pode ocorrer se o organismo experimentar modificações do meio, ou seja, essa organização depende da estimulação ambiental. Assim realçou a importância da experiência precoce no desenvolvimento, especialmente no desenvolvimento cognitivo, pois viu o cérebro como algo desorganizado que se organiza lentamente à medida que é estimulado. Considera que esta organização começa quando um grupo de neurónios forma uma unidade, a assembleia celular, e evolui quando essas assembleias se organizam em sequências de fase em funcionamento harmonioso, que tornam a criança capaz de uma aprendizagem extremamente rápida.

Hebb constatou que existem diferenças significativas, nos organismos, no que diz respeito à proporção entre áreas de associação e áreas de estimulação e que seres com maior número de áreas de associação são capazes de mais e maior variedade de aprendizagens do que os que têm maior número de áreas de estimulação.

Podemos verificar que à medida que subimos na escala filogenética a razão entre áreas de associação e áreas de estimulação aumenta e aumentam os efeitos benéficos de um ambiente de estímulos enriquecedor.

Hebb acredita que os resultados em humanos sejam idênticos aos obtidos nas suas experiências com animais: as crianças que até aos seis anos (idade em que desenvolvimento intelectual começa a abrandar) foram submetidas a ambientes pobres de estímulos nunca vão poder compensar este défice intelectual.

Krech demonstrou que à semelhança de certas drogas, a estimulação do meio pode aumentar a capacidade de aprendizagem devido às alterações químicas cerebrais que provoca. Para isso, criou dois grupos de ratos, um em ambiente estimulante e outro em ambiente de estímulos homogénios, e no final sacrificou-os para comparar os seus cérebros. Verificou que o córtex dos ratos estimulados era mais volumoso, mais profundo, mais pesado e continha maior quantidade de uma enzima que prepara as células nervosas para novas transmições neuronais, do que os ratos criados com estímulos muito homogénios. Assim pode concluir que os cérebros dos ratos estimulados eram quimica e estruturalmente diferentes dos dos ratos menos estimulados.

 

Estimulação Ambiental

É necessária uma estimulação ambiental para que ocorra um desenvolvimento fisiológico apropriado, visto que os aparelhos perceptivo e neuronal não se desenvolvem automaticamente.

Joseph Altman desfiou a perspectiva tradicional de que as crianças recém nascidas possuem todos os neurónios que algumas vez terão. Verificou que minusculas células nervosas, os microneurónios, desenvolvem-se no cérebro após o nascimento, proporcionando interconexões com alguma das células maiores.

O neurónio envia uma mensagem pelo axónio e as dendrites do próximo neuronio recebem-na, na sinapse, então frequentemente as dendrites projectam espinhas dendriticas. Estas se não forem usadas degeneram, mas se forem frequentemente utilizadas  desenvolvem-se cada vez mais.

Austin Riesen também demonstrou que o aparelho sensorial deve ser estimulado para que se desenvolva de forma apropriada. Realizou experiências com gatos e com chimpanzés, criando-os na completa escuridão o que provocou em ambas as espécies danos permanentes no aparelho visual, embora nos gatos esses danos tenham sido menos severos. Este facto revela que a estimulação é mais importante à medida que progredimos na escala filogenética.

 

O Berço de Skinner

Skinner, comportamentalista, pedia aos pais para criarem os filhos na sua invenção de 1945, o Berço de Skinner. era um compartimento com temperatura controlada, livre de germes, à prova de som, onde o bébé podia dormir sem cobertores (ou qualquer roupa, a não ser uma fralda), aqui o bébé tinha menor probabilidade de se constipar ou de sofrer de erupções da pele. Contudo, neste berço o bébé contacta com um ambiente constante, podendo não lhe proporcionar uma variedade de estímulos enriquecerdora, importante para o desenvolvimento intelectual.

 

Programas de Intervenção Precoce

Os proramas de intervenção precoce têm o objectivo de preparar melhor as crianças de níveis sócio-económicos desfavorecidos para conseguirem atingir maior sucesso escolar. Após experimentações, estes programas revelaram produzir os seguintes efeitos:

- melhores classificações;

- menos reprovações;

- menos faltas;

- menos alunos enviados para ensino especial;

- maior número de pessoas a ingressarem no ensino secundário;

- mais pessoas a prosseguirem estudos após o ensino secundário;

- menos delinquencia;

- maior emprego;

- menor dependência de programas de assistência;

- menos detenções pela polícia;

- menos mulheres grávidas antes do casamento;

- maior preocupação em ajudar família e amigos.

 

O Programa Head Start estava destinado a falhar quase desde a sua concepção pelo que houve uma avaliação muito crítica acerca deste. No entanto os criticos podem ter-se precipitado, pois uma análise posterior dos resultados do programa Head Start revelou que este foi de facto eficaz na melhoria do desempenho intelectual. Com o decorrer dos anos o prorama produziu ganhos intelectuais e persistência nesses ganhos. O Programa Perry para o ensino pré-escolar apresentou resultados de um estudo realizado com os participantantes do programa Head Start que foram seguidos dos 3 anos daté aos 19 anos. A conclusão mais importante é a de que o Programa Head Start é eficaz a longo prazo, realmente pode mudar as vidas de crianças de níveis socio-económicos mais desfavorecidos.

A conclusão a retirar é que os proramas de intervenção precoce são um bom investimento para a sociedade.